terça-feira, novembro 27, 2007



Um rio de escondidas luzes
atravessa a invenção da voz:
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca

No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta

Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido

Ana Hatherly, Um rio de luzes

O Pavão Negro
Assírio & Alvim
2003

quinta-feira, novembro 15, 2007



Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama, Pelo sonho é que vamos

terça-feira, novembro 13, 2007



O que sempre me fascinou na cidade do Porto,
foi o encontro perfeito entre o passado e o futuro.
Lá o presente é intemporal.
E temos saudades de voltar um dia.
Saudades do Porto futuro.

DV

Foto de Sérgio Jacques, cais, Obra d'Ouro.
http://obradouro.blogspot.com/


...Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro. Há só um presente imóvel com um muro de angústia em torno. A margem de lá do rio nunca, enquanto é a de lá, é a de cá; e é esta a razão íntima de todo o meu sofrimento. Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueca...

... De que cor será sentir? ...

Fernando Pessoa, Carta a Mário de Sá-Carneiro, Livro do Desassossego.

Foto de Sérgio Jacques, estuário do Sado.

quarta-feira, novembro 07, 2007



O que é o espaço
senão o intervalo
por onde
o pensamento desliza
imaginando imagens?
O biombo ritual da invenção
oculta o espaço intermédio
o interstício
onde a percepção se refracta
Pelas imagens
entramos em diálogo
com o indizível

Ana Hatherly, O que é o espaço?
O Pavão Negro
Assírio & Alvim
2003