segunda-feira, janeiro 29, 2007
















Quinto Poema do Pescador

Eu não sei de oração senão perguntas
ou silêncios ou gestos de ficar
de noite frente ao mar não de mãos juntas
mas a pescar.
Não pesco só nas águas mas nos céus
e a minha pesca é quase uma oração
porque dou graças sem saber se Deus
é sim ou não.

Manuel Alegre

sexta-feira, janeiro 26, 2007




















Edmundo Pedro um homem inteiro.

O resistente antifascista conta, no seu primeiro volume de memórias, momentos marcantes até 1945, data em que foi libertado do campo do Tarrafal.

quinta-feira, janeiro 25, 2007
















SIM

A despenalização do aborto é uma questão de dignidade, de justiça social, de respeito pela saúde e pela intimidade e consciência individual.

A uma rapariga

Abre os olhos e encara a vida! A sina
Tem que cumprir-se! Alarga os horizontes!
Por sobre lamaçais alteia pontes
Com tuas mãos preciosas de menina.

Nessa estrada de vida que fascina
Caminha sempre em frente, além dos montes!
Morde os frutos a rir! Bebe nas fontes!
Beija aqueles que a sorte te destina!

Trata por tu a mais longínqua estrela,
Escava com as mãos a própria cova
E depois, a sorrir, deita-te nela!

Que as mãos da terra façam, com amor,
Da graça do teu corpo, esguia e nova,
Surgir à luz a haste de uma flor!...

Florbela Espanca, Charneca em Flor (1930)

terça-feira, janeiro 23, 2007















Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos.

domingo, janeiro 21, 2007















A poetisa, dramaturga, ensaísta e tradutora morreu hoje.
Aqui ficam algumas das muitas palavras que escreveu.

Do amor

Esta vista de mar, solitariamente,
dói-me. Apenas dois mares,
dois sóis, duas luas
me dariam riso e bálsamo.
A arte da natureza pede
o amor em dois olhares.

Fiama Hasse Pais Brandão, As Fábulas (2002)

quinta-feira, janeiro 18, 2007



















Os dias de verão


Os dias de verão vastos como um reino
Cintilantes de areia e maré lisa
Os quartos apuram seu fresco de penumbra
Irmão do lírio e da concha é nosso corpo

Tempo é de repouso e festa
O instante é completo como um fruto
Irmão do universo é nosso corpo

O destino torna-se próximo e legível
Enquanto no terraço fitamos o alto enigma familiar dos astros
Que em sua imóvel mobilidade nos conduzem

Como se em tudo aflorasse eternidade

Justa é a forma do nosso corpo

Sophia de Mello Breyner Andresen



terça-feira, janeiro 16, 2007


CONTRA A INJUSTIÇA, PELA DIGNIDADE

14 razões para votar Sim
Porque somos cidadãs e cidadãos responsáveis e comprometidos/as com a defesa dos direitos humanos e queremos intervir neste debate não como eleitoras/es de um ou outro partido político, ou mesmo sem partido, mas antes como pessoas conscientes dos seus deveres e direitos cívicos. [1] Porque está em causa o respeito pela dignidade, autonomia e consciência individual de cada pessoa e pelos princípios da igualdade e da não discriminação entre mulheres e homens. [2] Porque somos a favor de uma maternidade e paternidade plenamente assumidas e responsáveis antes e depois do nascimento. [3] Porque o direito à maternidade consciente e à saúde reprodutiva são direitos fundamentais. [4] Porque as mulheres, como os homens, têm direito à reserva da intimidade da vida privada e familiar. [5] Porque somos a favor da vida em todas as suas dimensões. [6] Porque é um elemento essencial do Estado de direito o princípio da separação entre a Igreja Católica ou qualquer outra confissão religiosa e o Estado. [7] Porque o que está em causa não é o 'direito ao aborto', nem ‘ser a favor do aborto’, mas antes o respeito pelas mulheres que decidem interromper uma gravidez até às 10 semanas, por, em consciência, não se sentirem em condições para assumir uma maternidade. [8] Porque a penalização do aborto dá origem à interrupção voluntária da gravidez em situação ilegal e insegura, o que tem consequências gravosas para a saúde física e psicológica das mulheres que a ela recorrem. [9] Porque uma lei penal ineficaz e injusta é uma lei constitucionalmente ilegítima. [10] Porque consideramos que a sujeição das mulheres a processos de investigação, acusação e julgamento pelo facto de fazerem um aborto atenta contra os valores da sua autonomia e dignidade enquanto pessoas humanas. [11] Porque nenhuma proposta de suspensão do processo liberta as mulheres da perseguição policial e judicial que antecede o julgamento, envolvendo sempre uma devassa da sua vida privada, e deixando a pairar necessariamente sobre elas uma ameaça de sanção que pode vir a concretizar-se no futuro. [12] Porque a proibição do aborto dá origem à gravidez forçada o que se traduz em violência institucional. [13] Porque uma lei que despenalize o aborto não obriga nenhuma mulher a abortar. [14] VAMOS VOTAR SIM NO PRÓXIMO REFERENDO.

Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo Sim
http://cidadaniapelosim.blogspot.com/index.html

quinta-feira, janeiro 11, 2007



















As pedras

As pedras falam? pois falam
mas não à nossa maneira,
que todas as coisas sabem
uma história que não calam.

Debaixo dos nossos pés
ou dentro da nossa mão
o que pensarão de nós?
O que de nós pensarão?

As pedras cantam nos lagos
choram no meio da rua
tremem de frio e de medo
quando a noite é fria e escura.

Riem nos muros ao sol,
no fundo do mar se esquecem.
Umas partem como aves
e nem mais tarde regressam.

Brilham quando a chuva cai.
Vestem-se de musgo verde
em casa velha ou em fonte
que saiba matar a sede.

Foi de duas pedras duras
que a faísca rebentou:
uma germinou em flor
e a outra nos céus voou.

As pedras falam? pois falam.
Só as entende quem quer,
que todas as coisas têm
um coisa para dizer.

Maria Alberta Menéres, Conversas com versos

quarta-feira, janeiro 10, 2007















Pele

Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que tua pele ser pele da minha pele

David Mourão-Ferreira

terça-feira, janeiro 09, 2007















...De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida

Ruy Belo

quarta-feira, janeiro 03, 2007















Há cerca de 8 anos Clóvis Rossi, jornalista brasileiro e actualmente colunista da Folha de S. Paulo, escreveu um texto ainda de grande actualidade e que nunca é demais reproduzir.

Um século de barbárie e de direitos humanos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 1948, nasceu como uma resposta de profundo conteúdo humanista às atrocidades inéditas cometidas durante a 2ª Guerra Mundial (1939/45).Na essência, é um hino à vida, à liberdade e a padrões de justiça consagrados internacionalmente, exatamente os itens que mais foram violados durante a guerra.Ou, posto de outra forma, "são os direitos humanos fundamentais, porque sem eles não se goza dos demais direitos", como diz Carlos Alberto Idoeta, da seção brasileira da Anistia Internacional, uma das maiores e mais respeitadas ONGs (Organizações Não Governamentais) do campo dos direitos humanos.Ao longo dos 50 anos seguintes, os "demais direitos" mencionados por Idoeta foram crescentemente incorporados ao elenco de direitos humanos igualmente fundamentais, sem, no entanto, que se conseguisse fazer respeitar os mais essenciais, mais básicos.Direito á vida? À liberdade? Á padrões de justiça internacionalmente consagrados? O relatório da Anistia Internacional de 1997, o mais recente, afirma, logo de saída:"A miséria e o medo continuam presentes 50 anos depois da adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A promessa de 1948 não foi cumprida. Para a maioria das pessoas, aqueles direitos são pouco mais que letra morta".

Clóvis Rossi


Entre tumultos, catástrofes e barbáries, todos os anos se revelam dificeis para quem vive na esperança de um dia melhor. 2007 não será diferente, mas a esperança leva-nos a acreditar que cada um de nós pode ajudar a construir um mundo mais solidário e tolerante. Mais de metade da população mundial ainda vive no limiar da pobreza em contraste com a nossa sociedade consumista. Há que combater a indiferença e defender o direito a uma vida melhor. Todos os dias se constroi um ANO NOVO.

Já agora, vale a pena passar os olhos pelo Relatório do Desenvolvimento Humano 2006. http://hdr.undp.org/hdr2006/pdfs/report/portuguese/08b-Middlematter_PT.pdf
Feliz 2007

DV

terça-feira, janeiro 02, 2007








O teu rosto

É o teu rosto ainda que eu procuro
Através do terror e da distância
Para a reconstrução de um mundo puro.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Mar novo (1958)