segunda-feira, maio 28, 2007













Sempre que vou ao Porto sinto-me tocado pela magia das margens do seu rio, que só as palavras do poeta são capazes de revelar.

Cidade

Meti-me por setembro fora, a caminho do fulgor das maçãs, deixando para trás os bruscos golfos da tristeza e uma luz de neve quebrada de vidraça em vidraça.
Contemplava a cidade das pontes pela última vez, envolvida por lençóis encardidos e uma névoa que subia do rio para lhe morder o coração de pedra.
Era um burgo pobre, sujo, reles até - mas gostaria tanto de lhe pôr um diadema na cabeça.

Eugéneo de Andrade, Memória doutro rio.

terça-feira, maio 22, 2007


















Mar

Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia I

sexta-feira, maio 18, 2007













A memória não morre...
Hoje é dia dos museus.


Maravilha-te, memória!
Lembras o que nunca foi,
E a perda daquela história
Mais que uma perda me dói.

Meus contos de fadas meus
Rasgaram-lhe a última folha...
Meus cansaços são ateus
Dos deuses da minha escolha...

Mas tu, memória, condizes
Com o que nunca existiu...
Torna-me aos dias felizes
E deixa chorar quem riu.

Fernando Pessoa, Minha Memória e Meus Dias.

quinta-feira, maio 17, 2007


















O REGRESSO DE TARTUFO

Os impostores são iguais em todo o mundo. Como um virus instalam-se e contaminam a sociedade.
O Tartufo voltou aos palcos pelas mãos do mestre João Mota, justamente para nos lembrar tal praga.
Já muito se falou sobre esta e outras obras geniais de Jean-Baptiste Poquelin (Moliére). Mas a propósito deste espectáculo que marca o 35º aniversário da Comuna, refiro a oportunidade da sua reposição no país onde, parafraseando o encenador, o 25 de Abril permitiu o aparecimento de tartufos a todos os níveis: social, económico e político.
Estejamos atentos...

sexta-feira, maio 11, 2007
















Onde está Maddie McCann’s?

Princípio 9º
Nenhuma criança deverá sofrer por negligência (maus cuidados ou falta deles) dos responsáveis ou do governo, nem por crueldade e exploração. Não será nunca objecto de tráfico (tirada dos pais e vendida e comprada por outras pessoas).
Nenhuma criança deverá trabalhar antes da idade mínima, nem deverá ser obrigada a fazer actividades que prejudiquem sua saúde, educação e desenvolvimento.

Declaração dos Direitos da Criança, Assembleia das Nações Unidas, 1959.

quarta-feira, maio 09, 2007















Artigo 5°
Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
Declaração Universal dos Direitos Humanos

Guantanamo, até quando?

quinta-feira, maio 03, 2007


















Lá fora premeia-se a escrita em português. Desta vez o jornal londrino "The Independent" decidiu atribuir um importante prémio literário ao escritor José Eduardo Agualusa pela sua obra "O Vendedor de Passados". Parabéns

“Um nome pode ser uma condenação. Alguns arrastam o nomeado, como as águas lamacentas
de um rio após as grandes chuvadas, e, por mais que este resista, impõem-lhe um destino.
Outros, pelo contrário, são como máscaras: escondem, ilumem. A maioria, evidentemente,
não tem poder algum. Recordo sem prazer, sem dor também, o meu nome humano.
Não lhe sinto a falta. Não era eu.”


José Eduardo Agualusa, O Vendedor de Passados.

terça-feira, maio 01, 2007


















Maio todo o ano... quando se
vai o Maio fica a canção.

Maio maduro Maio
Quem te pintou
Quem te quebrou o encanto
Nunca te amou
Raiava o Sol já no Sul
E uma falua vinha
Lá de Istambul

Sempre depois da sesta
Chamando as flores
Era o dia da festa
Maio de amores
Era o dia de cantar
E uma falua andava
Ao longe a varar

Maio com meu amigo
Quem dera já
Sempre depois do trigo
Se cantará
Qu'importa a fúria do mar
Que a voz não te esmoreça
Vamos lutar

Numa rua comprida
El-rei pastor
Vende o soro da vida
Que mata a dor
Venham ver, Maio nasceu
Que a voz não te esmoreça
A turba rompeu

José Afonso, Maio Maduro Maio.

http://www.youtube.com/watch?v=floEANiIjII