sexta-feira, setembro 28, 2007











Quem construiu Tebas de sete portas?

Nos livros estão os nomes dos reis.
Foram os reis que arrastaram os blocos de pedra?
E as várias vezes destruída Babilónia
Quem é que tantas vezes a reconstruiu?
Em que casas da Lima fulgentede oiro moraram os construtores?
Para onde foram os pedreiros na noite em que ficou prontaa Mu­ralha da China?
A grande Romaestá cheia de arcos de triunfo.
Quem os levantou?
Sobre quem triunfaram os césares?
Tinha a tão cantada Bizâncio
Só palácios para os seus habitantes?
Mesmo na lendária AtlântidaNa noite em que o mar a engoliu bramavam osafogados pelos seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Ele sozinho?César bateu os Gálios.
Não teria consigo um cozinheiro ao menos?
Filipe da Espanha chorou, quando a armada se afundou.
Não chorou mais ninguém?
Frederico II venceu na Guerra dos Sete Anos
Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória.
Quem cozinhou o banquete da vitória?
Cada dez anos um Grande Homem.
Quem pagou as despesas?
Tantos relatos
Tantas perguntas.


Bertolt Brecht, Quem construiu Tebas de sete portas?

(Tradução de Paulo Quintela)

quarta-feira, setembro 19, 2007



Nem todos os rios respeitam as suas margens.
O "Rio Azul" do meu amigo Manuel Bola é um desses. Insatisfeito e rebelde, como qualquer rio devia ser.
Sigam o seu curso.
http://www.manelbola.blogspot.com/

terça-feira, setembro 11, 2007


















Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.

Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.

António Ramos Rosa , Uma voz na pedra

segunda-feira, setembro 03, 2007














Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.

Pablo Neruda