quarta-feira, agosto 30, 2006









O SÉCULO DE TODOS OS MEDOS.


“Poema pouco original do medo”

(…)
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
E tenho medo
Que é justamente
O que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Alexandre O'Neill

Este trecho cáustico do poema de O’Neill não podia ser mais actual e universal. Vivemos numa cultura do medo, que se instala nas nossas vidas, deixando-nos sem resistência e à mercê dos oportunistas. A argumentação faz-se pela força das armas e do dinheiro. Exporta-se o medo para todo o mundo e o mundo tem medo de resistir ao próprio medo.
Este é o século de todos os medos. Assistimos quase diariamente, em directo, à morte de inocentes. Leva-se a guerra a zonas do globo onde viver já é uma tarefa difícil. Evoca-se Deus e a Democracia para matar e destruir. A suspeita provoca, em alguns países, atitudes racistas e xenófobas.
Inventam-se razões para justificar a gradual degradação dos valores humanos e a dignidade dos povos que vivem abaixo do limiar da pobreza. Esta é a pior das crises que vivemos e que este ano tomou proporções verdadeiramente preocupantes para toda a humanidade.
Em nome de quê e de quem?
Sabemos que o medo não tem rosto, é silencioso, impiedoso e propaga-se rapidamente. É mais fácil exercer o poder debaixo da suspeita e do medo, porque fragiliza os que ainda têm voz e cega mais os ignorantes.
Só a esperança e o optimismo podem derrotar o medo e evitar que quase todos cheguemos “a ratos”.

DV