terça-feira, junho 05, 2007
Não podemos falar de Aveiro e das suas gentes, sem referirmos o vulto do pensamento democrático e resistente antifascista, médico, crítico e ensaísta, Mário Sacramento.
Nasceu em Ílhavo em 1920, tendo cursado medicina na Universidade de Coimbra. Pelo exercício da sua actividade profissional, desde cedo procurou Aveiro, aqui se radicando em 1957. Humanista de coração e seguindo uma linha ideológica marxista, desde cedo se afirmou como opositor à governação salazarista, advindo-lhe daí várias prisões e prejuízos sociais e económicos. Figura de militância no Partido Comunista Português, esteve sempre presente (vivo ou morto) nos Congressos de Oposição Democrática realizados em Aveiro. Morreu em 1969. Temido pela força dos seus escritos que tantas vezes foram de difícil publicação pela acção controladora da PIDE, ainda assim deixou importantes contributos literários que, em grande parte, só viram a luz do dia após a sua morte. Desses contributos salientam-se: Na ante- câmara de Eça de Queirós (1943); Fernando Pessoa - poeta da hora absurda (1953); Fernando Namora - o Homem e a obra (1967); Há uma estética Neo-realista? (1968); Carta Testamento (1973); Diário (1975); Palavras de Mário Sacramento (1984)(...)
Serviços de documentação da Universidade de Aveiro
Este é parte do conteúdo da sua carta-testamento, cujas palavras definem bem o seu enorme carácter.
(...)Nasci e vivi num mundo de inferno. Há dezenas de anos que sofro, na minha carne e no meu espírito, o fascismo. Recebi dele perseguições de toda a ordem — físicas, económicas, profissionais, intelectuais, morais.
Mas, que não as tivesse sofrido, o meu dever era combatê-lo. O fascismo é o fim da pré-história do homem. E procede, por isso, como um gangster encurralado. Fiz o que pude para me libertar, e aos outros, dele. É essa a única herança que deixo aos meus Filhos e aos meus Companheiros. Acabem a obra! Derrubem o fascismo, se nós não o pudermos fazer antes! Instaurem uma sociedade humana! Promovam o socialismo, mas promovam-no cientificamente, sem dogmatismos sectários, sem radicalismos pequeno-burgueses! Aprendam com os erros do passado. E lembrem-se de que nós, os mortos, iremos, nisso, ao vosso lado!
Não veremos o que quisemos, mas quisemos o que vimos. E este querer é um imperativo histórico. Há milhões de mortos a dizer-vos: avante!(...)
Façam o mundo melhor, ouviram? Não me obriguem a voltar cá!
Mário Sacramento, Caramulo, Pousada de S. Lourenço, 7 de Abril de 1967
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1 comentário:
Gostei tanto desta referência ...
O médico que me salvou em bébé! Devo-lhe a vida (segundo me contaram ...)
:)
beijo imenso *
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