"O Museu Salazar (rebaptizado Centro de Estudos sobre o Estado
Novo), que a Câmara Municipal de Santa Comba Dão pretende
desenvolver, no recatado berço do ditador, é uma casa assombrada.
Com um planeamento burlesco. A eira será restaurante e casa de chá.
É para o convívio, portanto. Escapa a parte que, supostamente, será
dedicada aos estudos. Mas que é inaceitável nesta localização. A
exposição consiste no estojo da barba, na mala de viagem,
condecorações e um punhado de manuscritos. Talvez o Teatro Nacional
D. Maria II possa recomendar o actor - que procura nos jornais para
representar Salazar - para um role-play intimista. Enfim...
cangalhada sem relevância científica. O espólio importante - tratado
já depois do 25 de Abril - encontra-se na Torre do Tombo. E o Estado
apenas deverá financiar o museu se este contribuir, de facto, para o
estudo do Estado Novo e não para a homenagem e revivalismo.
O objectivo alegado é o emprego e o turismo. Depois de morto é que o
déspota vai desenvolver o País e abri-lo ao turismo... arrebatando
com um excursionismo fetichista que oferece aos visitantes pincéis
da barba? O museu custa cinco milhões de euros, a um Executivo em
dificuldades. Além do já garantido emprego para um herdeiro do
ditador - 24 mil euros anuais vitalícios - não se vê que dinamismo
poderá trazer. Mesmo que existisse. A História e a memória não são,
certamente, menos importantes. Santa Comba não quererá a farda do
pide que assassinou Humberto Delgado?
O espectro de Salazar anda por aí. A RTP geriu atabalhoadamente o
concurso Os Grandes Portugueses quanto à sua nomeação e votação,
com consequências rançosas. O ensino da glória dos Descobrimentos
e a branca sobre a Guerra Colonial pouco diferem da História adestrada
pela ditadura. É assim, a nossa democracia. Não constrói valores e
motivos de identificação. Sobram medalhas e saudades. Tal aponta o
estudo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Os portugueses são dos mais nacionalistas do mundo. À conta da
nostalgia. Mas não são patriotas. Não criticam o passado, não gostam
do presente nem disputam o futuro. Basta comparar o à-vontade com
que se lança este museu com as contrariedades para colocar uma
simples placa-testemunho dos presos e torturados na ex-sede da PIDE
para perceber que a nossa democracia ainda tem muito a fazer. Antes
que se torne num fantasma."
Joana Amaral Dias, Diário de Notícias
Novo), que a Câmara Municipal de Santa Comba Dão pretende
desenvolver, no recatado berço do ditador, é uma casa assombrada.
Com um planeamento burlesco. A eira será restaurante e casa de chá.
É para o convívio, portanto. Escapa a parte que, supostamente, será
dedicada aos estudos. Mas que é inaceitável nesta localização. A
exposição consiste no estojo da barba, na mala de viagem,
condecorações e um punhado de manuscritos. Talvez o Teatro Nacional
D. Maria II possa recomendar o actor - que procura nos jornais para
representar Salazar - para um role-play intimista. Enfim...
cangalhada sem relevância científica. O espólio importante - tratado
já depois do 25 de Abril - encontra-se na Torre do Tombo. E o Estado
apenas deverá financiar o museu se este contribuir, de facto, para o
estudo do Estado Novo e não para a homenagem e revivalismo.
O objectivo alegado é o emprego e o turismo. Depois de morto é que o
déspota vai desenvolver o País e abri-lo ao turismo... arrebatando
com um excursionismo fetichista que oferece aos visitantes pincéis
da barba? O museu custa cinco milhões de euros, a um Executivo em
dificuldades. Além do já garantido emprego para um herdeiro do
ditador - 24 mil euros anuais vitalícios - não se vê que dinamismo
poderá trazer. Mesmo que existisse. A História e a memória não são,
certamente, menos importantes. Santa Comba não quererá a farda do
pide que assassinou Humberto Delgado?
O espectro de Salazar anda por aí. A RTP geriu atabalhoadamente o
concurso Os Grandes Portugueses quanto à sua nomeação e votação,
com consequências rançosas. O ensino da glória dos Descobrimentos
e a branca sobre a Guerra Colonial pouco diferem da História adestrada
pela ditadura. É assim, a nossa democracia. Não constrói valores e
motivos de identificação. Sobram medalhas e saudades. Tal aponta o
estudo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Os portugueses são dos mais nacionalistas do mundo. À conta da
nostalgia. Mas não são patriotas. Não criticam o passado, não gostam
do presente nem disputam o futuro. Basta comparar o à-vontade com
que se lança este museu com as contrariedades para colocar uma
simples placa-testemunho dos presos e torturados na ex-sede da PIDE
para perceber que a nossa democracia ainda tem muito a fazer. Antes
que se torne num fantasma."
Joana Amaral Dias, Diário de Notícias
3 comentários:
São as parvoíces dos autarcas e não acredito que o Estado vá subsidiar esta porcaria.
A não ser que um dia o povo português se estupidifique e faça do CDS um partido de poder. Mas penso que estão longe, muito longe esses tempos, se é que alguma vez existirão.
De todas as formas, turistas, esse pretenso futuro museu, nunca terá. Quem quer saber da vidinha de tão pequena personagem? Só se for para saber quão estúpidos foram os portugueses.
Se querem um museu sobre o estado novo é documenta-lo com testemunhos que identifiquem a verdade histórica, sem esquecer a resistência. É que a verdade é como o azeite... Abraço
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